sábado, 16 de fevereiro de 2008

" Se é chocolate, pra que ter sentido ?"

No filme " A Fantástica Fábrica de Chocolate" de Tim Burton, o menino Charlie, diante das outras crianças procurando um sentido para aquele mundo onírico diz " Se é chocolate, pra que ter sentido?"
Esta frase me faz refletir sobre muitas coisas do nosso chamado mundo real, como por exemplo, essa busca de sentido na vida que as pessoas normalmente tem, um sentido igual para todos, um sentido em série, que denota a chamada normalidade.
Não é tão mais rica a diversidade da vida e dos seres ?
O que é ter sentido, ou sentido não é uma coisa individual, do interno de cada um?
Talvez seja a rabugice própria da minha idade, mas sinto que cada um de nós deve se preocupar e cuidar de sua própria vida, viver e deixar viver, sem se preocupar e comentar sobre a vida dos outros.
Para que todos entendam melhor a razão desta minha reflexão, faço a seguir um breve resumo deste fantástico e belo filme:
A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE de Tim Burton

Um excêntrico capitalista, proprietário da fábrica de chocolate, Willy Wonka, interpretado por Johnny Deep, promove concurso internacional para escolher aqueles que vão fazer um tour em sua fantástica fábrica.
Cinco crianças de sorte, entre elas Charlie Bucket, encontram os bilhetes dourados em barras do chocolate Wonka e ganham a visita.
Maravilhado com tudo o que vê, Charlie fica fascinado pelo mundo fantástico de Wonka. Na verdade, o capitalista, imerso em conflitos íntimos e traumas de infância, almeja escolher seu sucessor.
Refilmagem do filme de Mel Stuart, de 1971, baseado na obra "Charlie and the Chocolate Factory", de Roald Dahl, o filme de Tim Burton, com seu estilo gótico, expressa um universo sombrio e espetacular, onde Charlie e a família Bucket parecem uma abstração. Representam a típica família proletária, que preserva, ainda, valores de sociabilidade tradicional. O pai de Charles é um ex-operário, desempregado em virtude de inovações tecnológicas no seu local de trabalho. No filme de Burton o destaque à condição operária, vítima do desemprego estrutural é interessante (o que não havia no filme de Stuart). Todos os Bucket moram num pequeno barraco incrustado no centro da cidade. A presença no lar dos Bucket de todos os avós de Charlie prefigura a preservação de laços afetivos com o passado. Na verdade, o jovem Charlie está ainda imerso no mundo tradicional, onde o que prevalece são os verdadeiros laços de família tradicional.
Por outro lado, as outras crianças – Augustus, Veruca, Violet e Mike, estão imersos no mundo do fetichismo da mercadoria. Ao tratar do mundo das crianças, Dahl (e Burton) buscam apresentar as contradições candentes do nexo sócio-reprodutivos da sociedade do capital. Numa situação de crise estrutural, a partir de meados da década de 1970, o universo problemático das crianças, como prefiguração da reprodução social, é deveras pertinente. Afinal, as crianças representam o futuro do sistema social. O que presenciamos em Charlie and the Chocolate Factory são crianças pervertidas pelos valores da "sociedade do espetáculo", onde vigora o egoísmo perverso, a possessividade das coisas, do consumismo e da gulodice. Cada criança contemplada pelos cupons Wonka prefigura uma degradação da personalidade infantil pelo fetichismo do capital, com exceção de Charlie.
O aclamado diretor Tim Burton traz seu estilo extremamente gótico-criativo ao livro clássico de Roald Dahl. Existem diferenças sutis em relação à primeira versão de Mel Stuart, de 1967. Por exemplo, no filme de Stuart, o jovem Charlie vai à escola (o que supõe destacar ainda uma perspectiva de integração possível à ordem do capital para a classe proletária através da educação escolar). Na versão de Tim Burton, a pobreza dos Bucket parece ser mais dilacerante do que aquela mostrada por Mel Stuart. Outro detalhe interessante é que, na nova versão de 2005, as relações entre o capitalista James Salt, pai de Veruka Salt, e os operários da sua fábrica, que procuram, para sua filha Veruka, os cupons Wonka é pautada pela aguda desconfiança (o que não havia na versão de Mel Stuart). O que pode sugerir a degradação das relações de trabalho nos últimos trinta anos de crise estrutural do capital.

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