terça-feira, 30 de junho de 2009

Canção de Alta Noite


Em 1964 entrei para a escola, para cursar o antigo primário. Já sabia ler, pois meu tio Ernesto tinha me ensinado.
Na biblioteca da escola, uma das primeiras coisas que li foi Cecília Meireles e a Canção de Alta Noite. Na minha mente de criança, poeta era aquele ser especial, que no final não necessitava de nada, como diz o poema.
Hoje, com 51 anos de idade (nunca escondo a minha), sinto que essa ausência de querenças tem bem mais a ver com coisas internas, da essência do ser.
Mas continua a beleza do poema que transcrevo a seguir:
CANÇÃO DE ALTA NOITE

CECÍLIA MEIRELES

Alta noite, lua quieta,
Muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta,
Não necessita de casa.

Acaba-se a última porta
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
Não necessita de sono.

Andar... perder o seu passo,
Na noite, também perdida.

Um poeta à mercê do espaço,
Nem necessita de vida.

Andar ... enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta indiferente
Anda por andar somente
Não necessita de nada.
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